O texto de Amargo Doce é caudaloso como o Rio Doce, personagem da vida do colatinense Carlito Ozório. E brinca com as dicotomias da vida deste caboclo italiano, homem que nasceu no interior, perdeu pai e padrasto cedo, ajudou a criar os irmãos, militou politicamente nos anos violentos da Ditadura Militar iniciada com o golpe de 1º de abril em 1964, viveu na clandestinidade por mais de uma década, nela teve uma filha com a companheira fiel de toda vida, recuperou seus direitos com a redemocratização, fundou um partido e segue lúcido e contundente, passadas 85 temporadas.
Dos avós maternos vindos da Itália e da África, Carlito herdou o sentimento de liberdade a qualquer preço. Seu bisavô italiano, segundo relatos, lutou ao lado de Giusseppe e Anita Garibaldi na guerra pela unificação da Itália e teria tombado morto por uma estocada de espada inimiga. O mesmo sangue quente do antepassado o moveu a se retirar do Espírito Santo para o Sul da Bahia, onde conviveu com a nata política do movimento guerrilheiro, em preparação no campo baiano...
(do prefácio de Caê Guimarães)
