de Ozeias Alves.
O Limite do mundo nas palavras incendiarias de Ozeias Alves Se é preciso falar para criar o mundo, quantas letras é preciso para destruí-lo? Com quantas palavras podemos inventar jeitos diferentes de acabar com tudo? Coquetel Molotov, de segundo livro de Ozeias Alves, é essa ferramenta caseira, artesanal, de destruição. O modo pelo qual, através do texto, Ozeias explora as várias possibilidades de fim. Um fim material, numa hecatombe, num desastre nuclear, na realização de uma profecia. Um fim pela falência moral, pela existência do absurdo e pela descrença em um mundo um pouco mais humano, ou será o humano um outro tipo falido? Cada conto de Ozeias é um limite. Um exercício narrativo em direção à linha que diz até onde é possível haver algo de pé, algum alicerce para se construir uma esperança de futuro e, ao mesmo tempo, perceber que a fatalidade do fim não era uma surpresa, mas uma necessidade. Esses últimos dois parágrafos colocam os contos em um patamar sombrio, melancólico. Não é o caso. Trata-se de um livro divertidíssimo em sua proposta catastrófica. Afinal, qual forma de dizer pode ser mais adequada à piada que é, no final de tudo, perceber que não há mais nada a se fazer? É o estilo do escritor que mostra, no andamento de cada história, que a ironia é a forma mais eficiente de se olhar no espelho. De fabular sobre o final que, ao mesmo tempo que é ficção, está na nossa vista da janela. Ozeias veio para nos fazer rir sobre os escombros da destruição. Seja de uma cidade, de princípios éticos ou de relacionamentos. É preciso perceber a demolição de nossas certezas com um sorriso no rosto, prontos para fazer algo melhor com aquilo que fizeram de nós.