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Descrição

A literatura de autoria feminina negra tem se constituído como um lugar de encontro, um espaço seguro, um lócus de autoproteção, tendo no curso da escrevivência (categoria literária criada pela genial escritora Conceição Evaristo) a amplitude de reverberar vozes por tanto tempo silenciadas que fazem da escrita um encontro ancestral, repartindo-se em muitos fragmentos de si para trazer vozes coletivas e amplificadas de afeto, amor preto, luta, sonhos e devires de esperança. 

 

Luiza, também signatária desse projeto, em seu livro de estreia, Encaracoladas, traz toda a sorte de ações em prol de construir uma estética da ancestralidade moldada em uma acidez apaixonada, em um dizer sem meia palavra, na força que cabelos crespos, encaracolados, têm em afirmarem cada noção de si partilhada num múltiplo negro ancestral. Em “Ideias surreais”, Luiza afirma que “Ela possuía uma vasta cabeleira cacheada e ideias surreais tão encaracoladas quanto seu black Power/enrolava-se em sonhos e desejos/ Em ser se quem é/livre/sem embaraços de olhares desconfiados ou amedrontados/não há nada escondido entre sua coroa crespa/ não há nada para esconder” (VITÓRIA, 2024, p. 19). 

 

Com esses versos fortes, empotencializados, afirmativos, reflexivos, autênticos, afetuosos, convido todas, todos e todes a encontrarem a voz de Luisa Vitório, amplificada em Encaracoladas, que se joga e se apresenta para a literatura, especialmente a literatura negra capixaba, como uma força multiplicada por cada canto que diz da nossa escritora: a negritude, a mulheridade, a favela, o mar, a luta, o fogo, a coroa crespa, a voz em alto som, a pena, o pincel, o canto, o corpo plural, o encontro ancestral. Também aquela que “ [...] não usa salto, brinco ou colar/ Meu nome é/sou mulher, negra, capixaba, favelada, solteira/ virginiana, brasileira/sorriso branco/ e eu?/ Eu não sou obrigada a nada” (VITÓRIO, 2017, p. 60). 

 

Sem ser “obrigada a nada”, Luisa nos encanta e faz refletir sobre nossas dores e também nossa capacidade de ser para além do padrão e dos lugares construídos para nós, movendo sua arte para um encontro de potências de autoamor, em uma poética que é visão, denúncia, crítica, afeto e cura. Eu aceito o convite, Luisa! 

 

Cibele Verrangia Correa da Silva (Doutora em Letras – área de Estudos Literários – pela Universidade Federal do Espírito Santo - Ufes. Membro fundadora do Coletivo Afro-Tons. Atualmente é pós-doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência

Sociais da Ufes. Bolsista: Fapes)