de Ana Sphia Brioschi Santos
OS POEMAS DAQUELA QUE ASSISTE
Bernadette Lyra*
Com a atual proliferação de livros escritos, seria fácil enquadrar Ana Sophia Brioschi Santos como mais uma poeta com as atitudes e tiques poéticos dessa nova geração que, no século XXI, de repente, brotou e se multiplicou no território da literatura. Mas não é isso que se pensa, depois de ler “Memorial d’inópia”. A confi ssão da incapacidade das palavras para dar conta dos sentimentos, o baque no coração na busca da expressão adequada, os tormentos ocasionais de quem deseja materializar um poema estão presentes no título e só aumentam a certeza de que a autora escapa da generalização. Decididamente, a poesia em Ana Sophia é uma surpresa. Vocês que vão ler este livro verão que, de maneira muito particular, a autora faz uso da imaginação como “limite do mundo” (coisa a que ela mesma confessa assistir em ‘Leva e traz’, p.33). Além disso, extrai o sumo da poesia; domina a forma do poema; é capaz de calibrar as palavras a ponto de deixá-las secas e duras em seu limite mínimo de materialidade e máximo da expressão. O resultado são versos crus, sem ornamentos, sem lantejoulas, sem purpurinas, enfeixados em poemas que emitem o brilho essencial dos diamantes.
