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E se isso tudo o que lemos – os romances, notícias, boletins de ocorrência ou relatórios de economia – for uma espécie de metereologia? E se tomássemos Drummond como um diário, provisoriamente humano, de sensações sísmicas? E se este “Previsões para Ontem”, breviário de Henrique Rodrigues, pedir para ser lido como um tutorial de profecias? Tudo muda. Parafraseando o seu soneto “De leitura e de escrita”, ele faz um livro em branco – e você lê.
Lê o presente cumulado de pretéritos, em que toda clarividência revolve o caduco apocalipse que passou, mas queda vivo, porque toda essa calamidade é pública e evidências da iminência do desastre nunca bastam. Ainda é ontem. E o que havia de sublime ficou nos fundos: a poesia é um quarto de empregada.
E lê-se uma voz que diz “também sou um substantivo/comum/sitiado/na patologia do entre/lugar” e ouvimos a voz imprópria: o #somostodosinsuficientes. Os em vias de obsolescência. Os que, na Cidade de Deus e no chão de Ícaro, ele capta por debaixo da vida-farpa: outros próximos da fila, os atingidos pela bala.
O que lemos, ao fim, neste “livro em branco” é uma arte de homo ludens – quando se vive inteiro para as sensações mais térmicas do amor e do humor –, na escuta que se abre ao nunca visível, ao fora, ao em estado de surdina. Dessa escuta nascem seus sonetos (sonzinhos) e os poemas que se gritam, na tentativa de capturar pela língua o que é somente tempo ruinoso e ruína temporal.
E se lêssemos a Constituição Brasileira de 1988 a partir de um dos versos: “o brasil cabe na viatura”?
Dennis Radünz