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Descrição

de Wilberth Salgueiro.

 

 

Estranhar o soneto? Estragar a piada? Ao lermos esta antologia de, entre outros textos, algumas peças do “piadeiro” nacional, metrificadas e versificadas em forma de sonetos, sob nova dicção, prosaica, ficamos sem chão. De peças bem conhecidas a outras menos, algumas recém-chegadas, algumas lembranças de situações risíveis, mas afetuosamente vividas, e ainda as baseadas em histórias reais, poemas vão reencarnando uma profusão de prosódias, feito camaleões, ou algo assim. Sim, porque aqui o soneto foi desossado (de suas rimas; mas quem quer osso?) e segue o fio rápido e certeiro do efeito cômico, abdicando do lirismo do verso que, por sinal, há muito fora demitido, “como quem acena” – mas não de suas engenhosidades, quando, por exemplo, revitaliza enjambements para dar sucessão rápida às ideias que compõem a peça. Se nos confundem irremediavelmente, sonetos e seu versificador, em nossa expectativa de leitor de poesia ou de amante de piadas, “outros, nem tanto”. Outros procuram registrar pessoas, com o afeto da amizade (Marcelo Paiva), ídolos, com a estima da admiração (Caetano Veloso), do amor pela musa amada, e experiências, com a necessidade de escrever sobre a morte para finalizar, arremate em tom autobiográfico de quem espia despeitado o horizonte do túmulo (relendo quem sabe algum Brás) e dá o troco à “consoada” na ambiguidade de que ali tudo se acaba: “Só rindo”. Uma vez leitor, gostei de (re)ler, de lutar e relutar com esse jogo em que me senti de cara driblado – eu, antipatizante confesso de futebol, aquele ópio chatíssimo do povo, que o versificador tanto venera e ainda pratica, depois de algumas cirurgias de joelho. “Ara”! Motivo pelo qual me convenci de ler com outros olhos, e me desfazer de fantasmas, já que o desafio estava no campo da literatura, como sempre está, toda vez que a leitura começa. Encontrar nesta escrita a reescrita de histórias contadas por outrem ou pelos próprios – Tom Jobim, Mário e Oswald, Picasso, Caymmi, Mané, personagem simpática que debocha do técnico do time (ah, essa valeu! rsrsrs) –, relembrar a encarnação da rabugice de nossos egos na comicidade ultraexpressiva do Milani, os paradoxos do Millôr ou do Rosa, entre tantos registros que muito falam da bibliotecarepertório desse versificador da leitura da literatura... Em suma, ler nessas entrelinhas, se o versificador me autoriza apropriações, é adentrar pela graça discreta de um rebite leminskiano em que sempre me fez pensar a pena de Bith. De modo que, estranhar o soneto, estragar a piada? Quem disse!?! Eu não fui.

 

Geraldo Pontes